11/08/2009

Com as bênçãos da Dama de Ferro

Nossa história começa, como um romance de Sinclair Lewis, na sombreada rua morta de uma sonolenta mas prospera cidade atual.Era uma manhã de segunda-feira, fechada, no início de agosto de 2009. Não havia muita coisa nos jornais, a não ser queixas sobre um ladrão de bicicletas e relatos de uma doença afetando a cidade. Uma grande faixa entre as colunas coríntias de uma biblioteca imaginária anuncia um novo Empréstimo pela Liberdade. O primeiro sinal de perturbação naquele dia claro foi a súbita aparição de uma única nuvem cúmulo-nimbo, alta como uma torre.

Sabe, às vezes sinto que estou destinado a ficar sempre nos bastidores quando se desenrolam as cenas principais no palco. Que Deus me tornou vítima de alguma brincadeira de mau gosto de proporções cósmicas, me dando pouco mais do que uma ponta na minha própria vida. Ou sinto às vezes que meu papel é simplesmente de espectador das histórias dos outros, e sempre saio andando a esmo no momento culminante, virando uma esquina ou simplesmente dando as costas exatamente na hora do desfecho.

Isso é um pedido de desculpas, devia explicar, porque estou para contar uma história que não sei como termina, e que pela primeira vez traz esse que vos fala como protagonista.

Há momentos na vida que valem mundos inteiros, e momentos que são tão carregados de emoção, que de alguma forma se tornam eternos. Lembro de acordar naquele dia e olhar para a parede de meu quarto, percebendo o espaço vazio onde devia figurar um pôster surrado de Margaret Tatcher, algo que revela minhas posições políticas conservadoras. De alguma forma aquele espaço vazio parecia tão significativo, tão especial, que agora eu me pergunto o que de fato aquele pôster fez lá tanto tempo. Aquele espaço vazio era uma parte de mim que faltava, uma parte do meu coração ou algo assim, nunca sei ao certo.

Eu me levantei e fui até o armário, olhando para os meus livros e revistas, postos metodicamente em ordem alfabética ao lado dos dvd’s. Eu estava procurando aconselhamento para questões de amor, o que eu sempre achava numa bela foto da dama de ferro, que antes fulgurava na parede. Na pagina 305 do velho livro de história eu encontrei.

Tinha olhos penetrantes e muito inteligentes, olhos que certamente teriam sustentado o meu olhar de um jeito firme e decidido se eu não evitasse deliberadamente encará-la, preferindo, em vez disso, assimilar os detalhes de sua pele clara e ligeiramente sardenta, e seus cabelos abundantes cor de cobre. Ela sorria para mim, não abertamente, só o suficiente para mostrar um pouquinho dos dentes bonitos e uniformes, e me fazer sentir que precisava retribuir, por mais difícil e estranho que isso pudesse ser.

Ela é como uma figura mítica com quem eu converso quando tenho coisas a decidir, sentimentos e fatos sobre os quais pensar, assim como existem homens que só conseguem se concentrar em lugares especiais, só deles; eu consigo me concentrar ao máximo, consigo realmente pensar, enquanto encaro aquela mulher. Longe de ser bonita, mas com certeza imponente.

Eu vinha me perguntando sobre meus sentimentos, sobre o amor e sobre tanta coisa que é difícil de expressar com palavras, mas fácil de fervilhar na superfície de nossas mentes.

“Fale, meu jovem, o que te aflige?” pude ouvi-la em minha cabeça. Não sabia o que dizer, a não ser a verdade mais profunda do meu coração: eu estava amando alguém como nunca antes tinha acontecido. Eu sou às vezes tão destrambelhado, sincero, irônico, ingênuo e, porque não, cínico, que sinto que sufoco as pessoas de quem eu gosto. Como por exemplo, essa garota por quem me descubro apaixonado. Ela é mais velha, bonita, inteligente e engraçada, como é que alguém assim se interessa por mim? Sei lá. Nem ela sabe se está interessada mesmo. (É estranho como alguém que tenciona ser escritor não consegue nem ao menos descrever uma pessoa querida...).

“Seja apenas verdadeiro, sincero, gentil! Mas seja vigoroso e forte! Massacre os inimigos com punhos de ferro, e nunca perca as rédeas de seu próprio destino!” é exatamente o que a dama de ferro me disse. “Filho, você tem que aprender a se impor, tem que ser melhor que os outros. Tem que ser firme! E não titubear”, continuou ela sem me dar atenção, “ porque as palavras só fazem soprar um hálito gelado sobre o calor das ações.”

Margaret Tatcher sempre cita Shakespeare nos momentos mais oportunos, quando eu preciso ouvir aquela voz familiar e inspiradora, que se revela no fundo como sendo a minha própria. Estava decidido, eu lutaria por aquilo que eu queria, eu declararia meus sentimentos aos ventos, e buscaria a todo custo à felicidade.

Lembro da sensação de liberdade e alívio que eu senti, lembro do gosto amargo na boca de quem acaba de acordar, lembro daquela sensação indescritível no fundo do peito que a pequena Dorothy, e Totó, deve ter sentido ao se descobrir novamente no Kansas.

Eu tinha a benção de quem eu mais queria para agir, a benção de mim mesmo, ou como gosto de pensar: a benção da dama de ferro!!!

(CONTINUA... com promessas de maiores explicações sobre essa coisa toda... )

3 comentários:

  1. Caro Denilson, não deverias tencionar ser um escritor: já És! E, arrisco dizer, que dos melhores! Sim, dos melhores! Digo, não por desconhecer M. de Assis, Edgar Allan Poe ou Camões, mas por conhecer-te e saber a sinceridade dessas palavras, por reconhecer a maestria com que amarras os acontecimentos aos sentimentos e à descoberta de si. És certamente extraodinário, o último de sua estirpe.

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  2. ps.: receba também a minha bênção ;D

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  3. me questionaste quanto ao exagero do comentário... já se imaginou com 50 anos? se te manteres produzindo diariamente textos, com afinco e dedicacao, creio q não será difícil chegar aonde já te vejo. Novamente frizo a sinceridade como o seu diferencial. Manda bala!!!=*

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